Em seus mais de 40 anos de carreira, o Grupo Tapa já trabalhou com incontáveis textos de autores internacionais e nacionais. Um dos dramaturgos mais presentes em seu repertório é o sueco August Strindberg (1849-1912) com os espetáculos Camaradagem, Credores, Senhorita Julia, além de uma leitura dramatizada de A Mais Forte. Em 2020, o Tapa encena mais uma peça do autor obcecado pelas relações conjugais, Brincando com Fogo estreia dia 9 de janeiro, quinta-feira, às 20h30, no Teatro Aliança Francesa.
Eduardo Tolentino de Araujo assume mais uma vez a batuta da direção e conta com o elenco formado por Bruno Barchesi, Camila Czerkes, Daniel Volpi e Luana Fioli, além da participação especial de Oswaldo Mendes e Mara Faustino. A temporada é somente até 16 de fevereiro com sessões de quinta à sábado, às 20h30, e domingo, às 19h.
Escrita em 1897, a trama mostra um casal entediado que cria um jogo para discutir e testar a relação envolvendo um amigo e uma prima da família. Os protagonistas “brincam com fogo” ao vivenciar situações que levam a reflexão sobre os limites do amor e da fidelidade em uma relação conjugal.
“A história é uma espécie de um “quadrângulo amoroso”. Traz uma família burguesa com um jogo perverso das relações, onde existe um mergulho no domínio e poder de um sobre o outro. Strindberg soube, como poucos, ir fundo nas questões conjugais, tinha obsessão na relação entre homem e mulher. Lidava com assuntos que ultrapassavam os tabus de sua época, Brincando com Fogo é quase que discutindo uma relação aberta”, conta o diretor.
Tolentino ressaltou a ligação entre as obras de Strindberg, um especialista de histórias que se passam entre quatro paredes. “Mesmo sendo escrita posteriormente, Brincando com Fogo desencadeia como resultado Credores, de 1884. Uma peça complementa a outra, Credores é sobre um triângulo, as consequências do que houve com o quadrângulo de Brincando com Fogo. Essa é a temática que o dramaturgo conhecia e habitava bem”.
Cenário e figurino possuem elementos que deixam o visual atemporal, mais próximo de algum tempo do século XX. Os personagens ficam em um ateliê de pintura que ganha um caráter mais onírico ou um limbo com a iluminação. Funciona também como uma espécie de purgatório quando os personagens expurgam os sentimentos por meio das palavras.
Strindberg tratava de personagens ligados ao mundo da arte e boêmia. Foi o primeiro autor a colocar sua própria vida nas peças, a chamada dramaturgia do eu. Chegou a declarar que nós não podemos conhecer plenamente a vida de outros personagens, pois só temos conhecimento de nós mesmos; só assim para alcançar todos os detalhes e profundezas de uma alma.
Iniciou o chamado drama de estações, onde uma cena não necessariamente precisava ter conexão direta com a anterior, trabalhando pela primeira vez de forma épica com cenas isoladas, e todas em torno da história de um personagem, geralmente o seu alter-ego. Quebrou paradigmas e padrões da dramaturgia da época, fonte de inspiração para a modernidade, como a do próprio Nelson Rodrigues.
Para o diretor, “Strindberg é o pai da Modernidade no teatro, um renovador da linguagem da cena, abriu a porta para explicitar o inferno das relações, é moderno tanto na forma quanto no conteúdo, um autor para a vida inteira”.
Ficha Técnica:
Texto: August Strindberg. Tradução: Augusto César. Direção: Eduardo Tolentino de Araujo. . Iluminação: Nelson Ferreira. Elenco: Bruno Barchesi, Camila Czerkes, Daniel Volpi e Luana Fioli. Participação Especial: Oswaldo Mendes e Mara Faustino. Arte Gráfica: Mau Machado. Fotos: Ronaldo Gutierrez. Produção Executiva: Ariel Cannal. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes.